O rótulo nem-nem, esse termo novo que descreve com certo menosprezo os jovens que nem estudam nem trabalham, perde sua carga pejorativa quando é empregado para definir os gregos entre 15 e 24 anos cujo acesso ao mercado de trabalho foi retardado ao infinito por causa da pior crise na história da zona do euro. Apesar dos incipientes sinais de recuperação econômica, a Grécia continua ostentando o pior indicador de desemprego juvenil da União Europeia, uma taxa que beirou os 60% nos anos mais duros da crise (2013-2014) e que hoje está em torno de 44%.
A geração dos nem-nem gregos se situa em terra de ninguém: tão longe das salas de aula como do mercado de trabalho ou, no melhor dos casos, com subempregos sem relação com os seus cursos. Nada que não possa ser dito dos jovens espanhóis, segundos no ranking do desemprego juvenil da UE, com 39%. Em 2016, de acordo com dados da OCDE, 26,9% dos jovens gregos entre 15 e 29 anos eram nem-nem (na Espanha, 22,7%). Segundo a Organização Internacional do Trabalho, o Brasil fechou 2017 com uma taxa de desemprego de praticamente 30% entre jovens até 25 anos. Pior resultado desde 1991, mas, mesmo assim, abaixo da Grécia.
Embora se trate de “um grupo que é muito difícil de rastrear com fins estatísticos”, explica Panayota Stamatiu, da direção de Integração no Mercado de Trabalho, do Ministério do Trabalho, graças entre outras coisas a programas europeus como a Iniciativa de Emprego Juvenil (YEI, na sigla em inglês) “o número de jovens nem-nem gregos se reduziu em 27%”. “Em 2013 havia na Grécia 230.000 enquadrados como nem-nem. Em 2017 eram 158.000”, afirma Stamatiu. “No total, 60,2% dos inscritos no programa receberam uma oferta de treinamento ou trabalho, e 53,9% dos que o terminaram encontraram emprego.”
O YEI, uma ferramenta lançada em 2013 para combater o desemprego juvenil na UE e administrada conjuntamente com cada Estado membro – que contribui com a maior parte dos recursos–, está na segunda fase em países como a Grécia, onde a taxa supera 25%, e com uma faixa de idade ampliada até os 29 anos. “A contribuição europeia representa menos de um terço do orçamento que o Governo grego destina para combater em conjunto o desemprego juvenil”, enfatiza Jarilaos Floros, diretor-geral de Gestão de Fundos Comunitários do Ministério do Trabalho. O programa genérico Desenvolvimento de Recursos Humanos e Formação Contínua, do Fundo Social Europeu, no qual o YEI se encaixa, tem um orçamento de 3,13 bilhões de euros (13,27 bilhões de reais) para o período compreendido entre 2014 e 2020.
“A Iniciativa do Emprego Juvenil, mediante programas de capacitação e formação combinados com estágios remunerados em empresas do setor privado, pretende especificamente dotar os jovens de sua primeira experiência no mercado de trabalho. Porque o desemprego juvenil na Grécia não é só uma consequência da crise, já era uma característica do mercado de trabalho anteriormente”, explica Yorgos Ioanidis, responsável pela secretaria de Gestão de Programas do Fundo Social Europeu do Ministério da Economia da Grécia.
Especialmente bem-sucedida foi sua implementação no setor turístico: 16.000 jovens encontraram trabalho, em um programa de cogestão com a Federação Grega de Turismo. “A grande maioria continua trabalhando no setor depois dessa primeira experiência”, ressaltam na Federação. Essa é outra característica do programa, o envolvimento de numerosos agentes sociais, como câmaras profissionais e sindicatos.
Elleni Kallidi, de 24 anos e moradora de Níkea, no cinturão de Pireu – uma região especialmente castigada pela crise –, se inscreveu no programa depois de terminar no ano passado seus estudos em Tecnologia de alimentos. “Hoje faço estágio em uma farmácia. Quando terminei meus estudos comecei a buscar trabalho enviando CV a muitos sites de emprego. Um dia um deles me chamou para me falar do programa YEI. Preenchi os papéis e em poucos dias me chamaram em uma instituição para começar a parte teórica: cursos de venda, marketing, serviços para o cliente e até linguagem corporal.” “Em seguida – prossegue Kllidi – tivemos entrevistas de trabalho, algumas proporcionadas pela própria instituição. Assim começou a segunda parte, seguida de outra, teórica (apresentações, informática) e de novo estágios durante cinco semanas. O maior destaque do programa, além dos novos conhecimentos que adquiri, é que quando terminei pude incorporar esses estágios no meu CV como experiência de trabalho. É realmente útil.”
Os beneficiários do YEI têm um perfil acadêmico muito variado. Há graduados, como Selvia Karabrahimi, também do cinturão de Pireu e que cursou Jornalismo, ou com estudos secundários, como Dimitra Xatzoglou, que estudou comércio. A primeira é aprendiz em uma loja de roupas enquanto a segunda faz um curso de Marketing e Vendas e estagia em uma livraria.
Fuga de cérebros
A imagem do nem-nem desligado do mundo que alguns propagam não tem muita relação com o contexto grego, marcado também por uma sangrenta fuga de cérebros: cerca de 250.000 jovens qualificados emigraram por causa da crise em menos de uma década. Nisso insiste Dimitris Papadimoulis, do Syriza, vice-presidente do Parlamento Europeu, instituição que financiou esta viagem: “O desemprego juvenil só pode ser combatido com crescimento, por isso temos de investir em Pesquisa e Desenvolvimento, sobretudo quando se concluir o resgate [em agosto]. Temos que transformar o brain drain [fuga de cérebros] em brain game [jogo de cérebros], e terminar também com os empregos inúteis, isso que se chama de precarização: jovens muito bem formados que se veem obrigados a trabalhar como garçons em hotéis. A solução para isso é acelerar os investimentos e o desenvolvimento. Felizmente, depois dos primeiros dados positivos registrados em 2017, a economia respira e a Comissão Europeia prevê um crescimento de 2,5% para os próximos anos. Estamos no bom caminho.”
Fonte